sábado, fevereiro 28, 2009

Sensibilidade


Num tempo em que os casamentos eram feitos por conveniência, podendo mesmo pensar-se em termos negociais, não deixa de ser importante olharmos para a sensibilidade e delicadeza do Ser Humano que escreve para, de alguma forma, suavizar o temor do desconhecido. Neste caso, a receptora destas palavras poderia fazer o seu próprio juízo de valor e, se possível, captar o que de mais sensível existia na pessoa que somente conhecia através de carta e, possivelmente através de pintura.
Numa visita ao Palácio da Ajuda dei comigo a ler estas palavras que achei de uma beleza excepcional:

Fumar charuto era um dos prazeres de D. Luís. Numa das cartas de noivado para D. Maria Pia revelou-lhe este seu hábito.
“ É também necessário que te diga um pouco dos meus gostos e carácter, na medida em que eu próprio os possa conhecer. Sou grande fumador, bom caçador, apaixonado pela música (…) Peço-te no entanto que não me impeças de fumar, é o único vício ao qual me apeguei seriamente. Quando se esteve no mar, quando se viu a morte defronte dos olhos, quando acreditamos que não voltaremos a ver os nossos, o charuto faz a vez de amigo e companheiro, fazendo voar os pensamentos tristes, como o fumo se agita ao vento.”

D. Luís e D. Maria Pia – Ascendentes do Rei D. Carlos (penúltimo rei de Portugal).

Imagem: Sala de Fumo, Palácio da Ajuda, Lisboa


terça-feira, fevereiro 24, 2009

Mudança


Tal como referi no post anterior, a resistência à mudança é uma constante na nossa vida. Contudo, por vezes é necessária.

Foi o que fiz com o meu blog. Já o tenho há alguns anos e nunca lhe havia mudado o aspecto pelas mais variadas razões. Como tudo tem uma história, mantive muitas referências que pertencem ao passado mas que fazem parte de mim. Nunca delas me quereria separar!

Não se assustem portanto quando aqui entrarem. Continuo igual, a aparência é que mudou.


"Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança."
Niccolo Maquiavel

Imagem: Fragmento da pintura a óleo de Vermeer - The view of Delf. Retirada daqui.

domingo, fevereiro 22, 2009

Bittersweet Symphony





Ouço a música, vejo o video clip várias vezes e dou comigo a sorrir e por vezes até a rir. Se prestarmos atenção nada tem que nos provoque o riso, antes pelo contrário. Simplesmente, ao ver e ouvir repetidas vezes, penso: “Será verdade?” Tenho que concordar que é real, tão real que até dói. E, por doer, o sorriso emerge como defesa. Defesa porque visiono as posturas que assumimos sem tão pouco disso termos noção.

" 'Cause it's a bittersweet symphony this life"

Trying to make ends meet, you're a slave to the money then you die"

Não será esta uma realidade actual?
Vivemos em plena luta diária pela sobrevivência. A maioria das vezes, deixamos de perceber que, possivelmente, poderíamos caminhar com mais calma porque já temos o que necessitamos. Mas, a correria continua ininterruptamente… até ao dia em que algo acontece e, percebemos que o fim pode estar mesmo ali ao lado… mas, mesmo assim, a vida continua e mais uma vez nos viramos para dentro de nós mesmos. Passamos nas ruas apinhadas de gente, seguindo sempre em frente como se nos tivessem desenhado um segmento de recta por onde temos que correr. Se, por acaso “acordamos”, damos com olhares frios, gélidos, rostos inexpressivos, perfeitos autómatos com os quais de imediato nos identificamos para que… sejamos apenas mais um entre muitos.

Obstáculos? Que é isso? Onde estão? Nem os vimos. Contornamo-los e, na impossibilidade, passamos por cima. Percebemos que o fizemos? Não! Interessa sim o objectivo a ser cumprido, custe o que custar.


"I need to hear some sounds that recognize the pain in me"


Necessidade imperativa e primordial para continuar. Esquecer, empurrar para os primórdios do inconsciente todos os problemas, aflições, traumas, etc, etc, etc que nos perseguem. Só recorrendo a esta defesa podemos continuar inexpressivos por forma a desempenhar os papéis sociais que nos são impostos. Como produto final, encontramo-nos muitas vezes como “autistas”, vazios de senso e conteúdo, de onde, se ainda nos for possível, só saímos quando um estimulo exterior suficientemente forte nos devolve a consciência.


"No change, I can't change, I can't change, I can't change"


É usual a negação à mudança, mais usual do que seria salutar. Mas quero acreditar que esta é sempre possível!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Passado



“(…) a cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes.”

Calvino, Italo, As Cidades Invisíveis, p. 14

E nós que a percorremos, quantas vezes olhamos sem ver?!



Imagem: Recanto da Praça da Riveira, Lisboa

sábado, fevereiro 14, 2009

Anjos e Demónios

Ouço uma, duas, três.... perdi a conta das vezes que a ouvi, numa tentativa de interiorizar a sua mensagem. Acho-a bonita e portadora de esperança, mas dou comigo a pensar que nem de tanto a ouvir consigo acreditar nestas palavras. Não fazem eco cá dentro, é como se de alguma forma estivesse bloqueada à sua entrada. Simplesmente rodopiam em meu redor mas… ficam-se por aí.

Verdade seja dita que anjos nunca foram o meu forte. Mas a esperança e a postura aberta a outras oportunidades sempre fizeram parte da minha personalidade..

Não posso considerar que tenha uma vida muito difícil. Há bem piores e seria injusto fazer qualquer equivalência. Contudo, noto o perfeito casulo onde, aos poucos, me fui envolvendo, na direcção proporcional à passagem do tempo. Cada vez mais apertado, cada vez mais escuro, de tal forma que já dei comigo a pensar: “A próxima etapa é não veres um palmo à frente do nariz!!”

Nunca fui, nem sou apologista de vitimização, sei que tenho que quebrar o ciclo. Pergunto-me amiúde: “Como?”

Angels

I sit and wait

Does an angel contemplate my fate

And do they know

The places where we go

When we're grey and old

'cos I have been told

That salvation lets their wings unfold

So when I'm lying in my bed

Thoughts running through my head

And I feel the love is dead

I'm loving angels instead

And through it all she offers me protection

A lot of love and affection

Whether I'm right or wrong

And down the waterfall

Wherever it may take me

I know that life won't break me

When I come to call she won't forsake me

I'm loving angels instead

When I'm feeling weak

And my pain walks down a one way street

I look above

And I know I'll always be blessed with love

And as the feeling grows

She breathes flesh to my bones

And when love is dead

I'm loving angels instead

...

terça-feira, fevereiro 10, 2009

A culpa foi de Eric



Comecei a escrever sobre outro assunto mas, fruto da companhia musical que escolhi (Gnossiennes,de Eric Satie), surgiu-me a imagem de um programa que, por mero acaso, vi na televisão, mais propriamente aqui.
Comecei a minha viagem pela música clássica desde muito cedo. Na altura, e no meio em que vivia, era considerado estranho uma criança gostar de música clássica (de tal forma que a minha mãe ainda levou algum tempo achando que algo não estava bem com a sua filha…). Foram tempos estranhos em que eu própria me considerei um pouco “marginal”. Felizmente, tive alguém que um dia se lembrou de me dar os parabéns. A partir daí, nada nem ninguém mais me conseguiu tirar este bichinho.
Foi pois com imensa alegria que tive conhecimento do projecto Zéthoven. Ver aqui.
Encantei-me vendo aquelas carinhas e olhinhos fantásticos que vibravam com a expectativa dos saraus, o medo do que podia acontecer aquando da sua actuação e, simultaneamente a alegria estampada naqueles rostos quando tocavam os seus instrumentos.
Com todas as crianças me identifiquei. A menina que tocava violino e que manifestava a necessidade em treinar sozinha no seu quarto sem qualquer interferência dos pais. O menino que na hora da sua apresentação se senta ao piano e toca a sua partitura, aquelas mãozinhas que, ainda pequenas, tendem a ficar quase presas ao teclado e que precisamente pela sua dimensão se posicionam frente às teclas quase na horizontal. As peças tocadas… tão infantis, tão fáceis mas tão bonitas e cheias de sonhos.
Com os meus olhos de hoje, vi o que sentia na altura projectado noutras crianças.
Agradou-me de sobremaneira ver como de há umas décadas para cá as mentalidades se modificaram. Estas crianças, com tão pouca idade, podem dar asas às suas capacidades sem que sejam consideradas diferentes. Podem desenvolver-se e evoluir através da música, bem como abrir os seus horizontes a outras realidades que tão necessárias são para um crescimento harmonioso.
Felizmente, ainda se fazem histórias de encantar!!
Imagem: Renoir, Jeune filles aux piano.

domingo, fevereiro 08, 2009

Caminhos


É sabida a necessidade de estimulação do Ser Humano no prosseguimento de determinada tarefa. Neste âmbito, foram feitos estudos que comprovam a tendência de evoluir cada vez mais. Como exemplo, quem tirou um curso superior, em princípio, terá mais probabilidades de continuar a sua aprendizagem usando como veículo a frequência e conclusão de outros cursos para que se sinta vocacionado. O mesmo “caminho” não tenderá a ser percorrido por quem nunca teve essa experiência. Quanto a mim, não será de estranhar visto sermos animais de hábitos, por mais que não o queiramos admitir.
Este blog começou como uma forma de não perder a “corrida” a nível de escrita, uma vez que era sabida a cada vez menor necessidade de utilização desta linguagem. Os conhecimentos adquiridos serviram-me para muito, sem dúvida, mas a vida, essa, costuma dar voltas para as quais por vezes não estamos preparados. E, quando tal acontece, mais não podemos fazer senão as necessárias adaptações. Estas, obrigam a estratégias, sendo que, essas sim, variam em todos nós.
Hoje, dei comigo olhando para este blog e pensando quantas foram as pessoas que por aqui passaram. Umas mais que outras, mas todas elas foram importantes. Posso até considerar que fui coleccionando amizades. Poucas, é certo, mas muito significativas!!
Percorrendo a lista que aqui tenho descobri que alguns dos blogues já nem existem… com esta descoberta, admito que a estratégia que escolhi (ausência) foi longa. Talvez longa demais!
Um dia, uma das amigas que por aqui deixa sempre uma palavra, disse-me perante a minha predisposição em não usar este canto para deixar correr lágrimas: “Já pensaste que ao usares os teus percursos de vida, podes ajudar alguém que te leia?” Achei que a razão estava do seu lado, mas… continuei afastada de tudo e de todos.
Penso que chegou a vez da mudança. Talvez começar por actualizar o que for necessário, escrever com alguma assiduidade… não sei qual, mas alguma, embora saiba que ainda existirão tempos de inacção. Os conteúdos? Não sei quais, mas terei com certeza em atenção o que me foi dito!