sexta-feira, julho 24, 2009

Consciencialização


Fotografia de pigar



Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
E eu via que o céu me nascia dos dedos



Em bares escondidos,

Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.



Aquele era o tempo

Em que as sombras se abriam,



E eu bebia da vida em goles pequenos,

Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta



De que serve ter o mapa

Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?



Quem me leva os meus fantasmas?

Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
...
Excertos da música de Pedro Abrunhosa; ‘Quem me leva os meus fantasmas’

Dia a dia… o caminho faz-se entre o alvo e a seta, entre o início e o fim, entre a alegria e o desalento…



quinta-feira, julho 16, 2009

Paralelismos

Imagem de Tatsuo Suzuki
Esperava a chegada do transporte olhando distraidamente em volta. Inadvertidamente, fixou o olhar numa das portas à sua frente. Observou os rostos fechados, os olhares que não se cruzavam, as tentativas de afastamento em cada movimento perpetrado pelos viajantes que entravam.
Subitamente, deu-se conta de que poderia fazer um paralelismo.
Cada janela um acontecimento da sua vida, cada porta um caminho que se havia apresentado e que poderia, ou não, ter sido trilhado. Surge a dúvida: E se tivesse escolhido uma porta e não a outra? E se tivesse aberto a porta quando deveria tê-la fechado de imediato? Quais as repercussões que poderiam ter tido essas escolhas no resultado actual?
Enquanto o pensamento deambulava pelos meandros das hipóteses, o movimento de afastamento acelerava, permitindo-lhe, no final, ver uma única imagem desfocada para, logo de seguida, ficar sozinha visualizando o espaço vazio onde segundos antes um objecto bem definido tinha estado.
Na vã tentativa de visualizar algo que lhe desse referências, lutava contra a sensação de que teria presenciado a sua vida projectada naquele meio de transporte. Acontecimentos vividos, caminhos percorridos, portas que se abriram e outras que se fecharam e… na ânsia infindável de que um dia conseguiria atingir os objectivos a que se propunha, esquecera-se de viver. Deu-se conta que o tempo passa a velocidades inesperadas e que, no fim, restaria somente o vazio… do que poderia ter sido, mas não foi!

sábado, julho 11, 2009

Caminho


Na companhia de
memórias e fantasmas,
a caminho do...
NADA!

segunda-feira, julho 06, 2009

Nunca Mais

Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.
E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Fotografia de Filomena Chito