As crianças e o seu pensamento são o que de mais belo e puro podemos encontrar. Não pensemos que estão desatentas, que podemos ter as mais variadas conversas porque não somos entendidos. Normalmente somos muito bem percebidos e, quando tal não acontece, mais tarde ou mais cedo a pessoa sobre quem estava posicionada a sua incompreensão acaba por sabê-lo.
Não preciso de prova, mas a história que se passou com a minha sobrinha de 8 anos é um exemplo perfeito.
- Ó tia dás-me um copo de àgua?
- Claro querida, vem comigo que to dou.
Enquanto lhe preparava a àgua, diz-me ela:
- Ó tia tu tiraste um curso de (…)?
Olhei para ela um pouco surpreendida e pensando por um lado onde quereria ela chegar, por outro admirada como é que ela, sendo minha sobrinha e da qual estou tão perto, sabia tão pouco da minha vida. Respondi-lhe afirmativamente pensando já em perguntar-lhe se não sabia. Não tive tempo porque de imediato avançou:
- Então porque trabalhas em (…)?
Apanhada de surpresa, respondi-lhe:
- Sim querida tirei porque gostava muito, mas como não consegui trabalhar nessa área acabei por trabalhar onde conheces.
No meio dos meus pensamentos rápidos dentro daquela conversa e de alguma emoção, devo ter ficado sem noção do tempo. Ouço a mesma vozinha:
- hummm, pois! Mas eu ainda não tenho a minha àgua!!!
A rir, servi-lhe o que me pedia mas fiquei a pensar como sem querer e na mais pura das inocências, aquela criança de quem tanto gosto, tocou num ponto fulcral.
O desenvolvimento da vida de cada um de nós. Os gostos muito particulares, os objectivos que pretendemos atingir em determinada altura, o trabalho muitas vezes sobre humano que fazemos, a luta pela concretização de um sonho e … a vida que pode ser “(…) como a brisa suave que precede as tempestades brutais; parece doce mas é amarga, tal como a rosa que atrai com as cores vivas das pétalas e trai com os espinhos que as folhas ocultam.”
Cit. Santos, José Rodrigues; A Vida Num Sopro, p. 68.
Imagem: Pino Art (2006), Close To My Heart.