“A ideia que cada um de nós elabora acerca de si mesmo (…) é construída ao longo de anos de experiência e é constantemente sujeita a remodelação.” Grande parte desta construção tende a “ ocorrer de forma não consciente, e a própria remodelação também não é consciente. Estes processos conscientes e inconscientes, qualquer que seja a sua proporção, são influenciados por uma grande variedade de factores: traços de personalidade inatos e adquiridos, inteligência, conhecimento, meio ambiente social e cultural. (…) As mudanças que ocorrem no SI autobiográfico ao longo da vida de uma pessoa não se devem apenas à remodelação do passado já vivido, mas também à elaboração e remodelação do futuro antecipado."
No decurso da nossa vida e em todos estes processos inerentes, por vezes, damos por nós completamente desviados do trilho que desenhámos.
Algures no tempo, antecipamos o nosso futuro e remodelámo-lo consoante a realidade que considerámos importante. Normalmente, tendemos a perceber o que conquistamos como imutável, mas esquecemo-nos que a eternidade não existe. Numa tentativa de não perdermos o que com tanta luta obtivemos, vamos dando de nós, cedendo, interiorizando valores que muitas vezes nem são os nossos, perdendo-nos…
Insistimos em guardar para os meandros do inconsciente aquilo que nos é desconfortável, escondendo-nos de nós próprios pelas mais variadas formas… até que um dia esse conteúdo tanto tempo inconsciente, brota numa amálgama de sentimentos que a maioria das vezes não percebemos.
É nessa altura que nos deparámos num caminho envolto em nevoeiro, perdidos num marasmo que impossibilita a previsão de um futuro. Quando por fim olhámos em volta, consciencializámo-nos de que teremos que mergulhar em nós mesmos, correndo o risco de parecermos egoístas e não sermos compreendidos, para de novo subirmos a pulso os pilares da ponte que nos indicará a continuidade do percurso de vida.
Conheço este sinuoso caminho, contudo ainda tenho a ténue esperança de que possa atingir o cimo da ponte…
Damásio, António, O Sentimento De Si. p.259
No decurso da nossa vida e em todos estes processos inerentes, por vezes, damos por nós completamente desviados do trilho que desenhámos.
Algures no tempo, antecipamos o nosso futuro e remodelámo-lo consoante a realidade que considerámos importante. Normalmente, tendemos a perceber o que conquistamos como imutável, mas esquecemo-nos que a eternidade não existe. Numa tentativa de não perdermos o que com tanta luta obtivemos, vamos dando de nós, cedendo, interiorizando valores que muitas vezes nem são os nossos, perdendo-nos…
Insistimos em guardar para os meandros do inconsciente aquilo que nos é desconfortável, escondendo-nos de nós próprios pelas mais variadas formas… até que um dia esse conteúdo tanto tempo inconsciente, brota numa amálgama de sentimentos que a maioria das vezes não percebemos.
É nessa altura que nos deparámos num caminho envolto em nevoeiro, perdidos num marasmo que impossibilita a previsão de um futuro. Quando por fim olhámos em volta, consciencializámo-nos de que teremos que mergulhar em nós mesmos, correndo o risco de parecermos egoístas e não sermos compreendidos, para de novo subirmos a pulso os pilares da ponte que nos indicará a continuidade do percurso de vida.
Conheço este sinuoso caminho, contudo ainda tenho a ténue esperança de que possa atingir o cimo da ponte…
Damásio, António, O Sentimento De Si. p.259
Fotografia de F. Monteiro
10 comentários:
A melhor forma é, talvez, mergulhar nos recônditos confins da mente... nas suas partes mais tenebrosas e obscuras, nada temendo, afinal, não faz sentido termos medo de nós mesmos... se temermos a nós mesmos é inevitável temer o mundo...
Ando há anos para ler esse livro... :P Mas há tanto que quero ler, que muitas vezes não sei por onde começar... :)
Beijinhos!
O cimo não, mas o outro lado sim!
São percursos sim. Mas também passagens que levamos e havemos de retornar com fiapos delas.
O que interessa é a honestidade dos passos dados. De preferência agora. Depois... bom, depois serão novos percursos, atalhos e claro, caminhos largos e limpos.
Tentar trepar os pilares e´alicerçar-se. E isso só os corajosos o tentam. Mesmo com vertigens a olharem para o fundo.
Nevoeiro e D. Sebastião combinam!
A classe de uma escrita sem neblinas nem opacidades...
Alexandra,
Para mim o importante é que nunca nos falte nem a força nem a vontade de mais uma vez "subirmos a pulso os pilares da ponte"! Continuaremos... e certamente mais experientes!
O caminho que percorremos pode ser longo ou curto, mas possui cruzamentos que nos deixam confusos. Alcançar o cume de um caminho é aprender tudo o que poderia ser aprendido ao percorrê-lo e chegar ao ponto onde nada mais tem para se saber. Assim o cume torna-se distante por mais que caminhemos.
Beijos doces de seu sabor preferido.
Mesmo que seja uma curva a próxima visão o que interessa é seguir o caminho, pode ser uma boa surpresa...
Beijinho(S)*
Querida Amiga Alexandra,
Texto importantíssimo este de o Sentimento de Si, do nosso maior cientista do cérebro e da neuro-psicofisiologia.
E se citou assim António Damásio, não deixe de ler, se puder, também deste autor, e já depois de mapear o cérebro humano ao milímetro, um outro livro que ele fez, também ele em busca de respostas para o que não conseguia percebe, mesmo depois de tantos estudos:
"Ao Encontro de Espinosa". Editado em 2004 pelas Publicações Europa América.
E sabe que é a nossa intenção, firmemente mantida que cria as novas sinapses que são quem constrõem novos caminhos nos nossos cérebros?
Muito obrigado por tão importante texto. Parabéns pela sua constante procura e observação.
Um grande abraço para si.
José António
"Insistimos em guardar para os meandros do inconsciente aquilo que nos é desconfortável, escondendo-nos de nós próprios pelas mais variadas formas… até que um dia esse conteúdo tanto tempo inconsciente, brota numa amálgama de sentimentos que a maioria das vezes não percebemos." é assustadoramente verdade
beijocas
preciosa foto.
http://cruz-pedro.blogspot.com
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