sexta-feira, janeiro 12, 2007

Os Nossos Eus

Independentemente do que posso ou não considerar, deixo uma citação de Virginia Woolf.

"Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa."

Virginia Woolf, in "Orlando"

22 comentários:

Isabel José António disse...

Querida Alexandra,

Há muito tempo que estávamos ausentes mas é com imenso prazer que regressamos a um contacto maior com este mundo da Fraternidade Virtual - e, esperemos, também REAL!

Curioso ter "desabado" neste seu post sobre os "eus" e ainda sem comentários!

Poder-se-ía mesmo perguntar: Será esta alegria que sinto neste renovado contacto, um dos meus "eus", aquele que se revela quando, no silêncio, leio e escrevo assim comunicando a Alma?

Um feliz ano novo!

Quando quiser aparecer, para além do Poesia Viva não se esqueça do "Observatório" -

http://diarioestetico.blogspot.com

Isabel

RPM disse...

Olá amiga!!!!

Eus, tenho muitos de acordo com o meu momento diário...o eu triste, o eu alegre, o eu preocupado, o eu ansioso, o eu necessitado depois de uma ida a Oz, etc, etc....

beijo grande de amizade

RPM

Anónimo disse...

Quase um mês depois, finalmente escreveste algo.
Que tal algo teu por tuas palavras?
experimenta.

beijos querida.

mano!

Carlos Henriques disse...

Olá Alexandra
Jamais me vou silenciar. Podem dizer mentiras e meias mentiras mas jamais me silenciarei.
Há factos que por mais escondidos que estejam, com o tempo "vêm á superficie" e já tenho mais alguns...

**beijos de bom fim de semana**

Chellot disse...

Há tantos eus em mim mesma que as vezes me pego discutindo ou confabulando com eles.

Beijos de sorvete.

Cadinho RoCo disse...

No plural dos nossos eus o singular do nosso ser.
http://cadinhoroco.blogspot.com

Brandybuck disse...

Tantos "eus" que nós somos.

Um beijo

Misterious_Spirit disse...

Todos nós temos vários "eus" tal como Fernando pessoa....
São os aspectos da nossa personalidade,do nosso carácter,da nossa alma ou da pessoa que se insere nesta sociedade...

E somos uma dança constante entre esses "eus"...

Um abraço

Desambientado disse...

Muito profundo e muito bonito.

Maria P. disse...

Costumo dizer que a vida é como uma roda-gigante com vários raios, uns bons, outros maus e outros assim-assim.

Dependendo do raio da roda em que gira o dia, assim surge o "eu" desse instante.

Beijinhos:)

A. Pinto Correia disse...

Pergunto: e se não fossemos multiplicidades?
Bjs

Isabel José António disse...

Querida Amiga Alexandra,

Passei por aqui hoje e vejo este post sobre "Eus".

Que bonita e inspirada afirmação da autora. De facto, entre muitas outras proposições sobre a constituição do homem, pode-se considerar, de modo grosseiro, já se vê, que, no fundo, no fundo, existem dois "Eus" em cada ser humano.

O Eu Superior tem a ver com a CONSCIÊNCIA, ou seja, quem nós somos de facto. Aí há lugar para todas as coisas boas, bonitas (o amor, a compaixão, a Paz, a serenidade, a apreciação sem nos agarrarmos às coisas, etc., etc.

O Eu Inferior é a nossa personalidade. Não contente em ser a Personalidade (do grego máscara) tem pretensões a fazer-se passar por quem nós somos. O que não é verdade. O Ego (ou a personalidade) é quem compara, julga, acredita ou não acredita, requer que se lhe dê atenção, fixa-se no TER e não no SER. Ele (ego) e o momento PRESENTE. Cada vez que prestamos toda a nossa atenção ao momento e ao que estamos a fazer, o ego vai-se embora. Porquê? Porque quando se fixa o AGORA cria-se um espaço na corrente ininterrupta na corrente de pensamentos compulsivos que nos vêm à mente. E esse espaço permite-nos SERMOS A CONSCIÊNCIA que é o que SOMOS, de facto.

Um abraço.

Post sempre e conte sempre connosco para a visitar.

José António

redonda disse...

Já tinha pensado nisto, mas mais como encontrando diversos "tus" numa mesma pessoa :)

Anónimo disse...

Venho eu, o eu de mim, de um espaço feito horizonte.
Nos outros "eus" que sou, o caminhar pelos dias que nem sempre é igual mas com uma base própria e individual, me sustenta e mantém naquilo que sou, na postura perante os outros, em relação à própria vida.
Bom ter chegado aqui!
Gostei muito!
Voltarei!

Um beijo,

Maria José

Isabel José António disse...

Cara amiga Alexandra,

Nem de propósito! O texto que vou transcrever, tem a ver com os "Eus". É um pouco longo para um espaço como este, mas é uma preciosidade. Ei-lo:

"...
Descartes, filósofo do Séc. XVII, considerado o fundador da filosofia, deu expressão a este erro primordial através da sua famosa máxima (que considerava uma verdade fundamental): "Penso, logo existo". Esta foi a resposta que encontrou para a questão: "Há alguma coisa que eu possa saber com uma certeza absoluta?". Ele entendeu que o facto de estar sempre a pensar não deixava qualquer dúvida e, por isso, comparou pensar a SER, ou seja, comparou a identidade - Eu Sou - ao pensamento. O que ele realmente tinha descoberto era a origem do ego, não a verdade fundamental, mas ele desconhecia isso.

Passaram quase trezentos anos até outro célebre filósofo ver naquela afirmação algo que tinha escapado a Descartes e a toda a gente. Esse filósofo chamava-se Jean-Paul Sartre. Sartre reflectiu intensamente sobre a afirmação de descartes, "Penso, logo existo", e subitamente apercebeu-se, citando as suas palavras, de que "A consciência que diz "existo" não é a consciência que pensa". O que pretenderia ele dizer com isto? Quando temos consciência de que estamos a pensar, essa consciência não faz parte do pensamento. É uma dimensão diferente de consciência. E é esta consciência que diz "existo". Se não houvesse mais nada dentro de nós a não ser o pensamento, nem sequer saberíamos que estávamos a pensar. Seríamos como uma pessoa que está a sonhar e não sabe. Identificar-nos-íamos com cada pensamento, como o sonhador se identifica com cada imagem do seu sonho. Ainda há muitas pessoas que vivem assim, como sonâmbulos, presas a antigos padrões de pensamento disfuncionais que recriam permanentemente a mesma realidade de pesadelo. Quando sabemos que estamos a sonhar, permancemos conscientes dentro do sonho. Entramos noutra dimensão de consciência.
...//...
Em situações limite algumas pessoas perderam todos os seus bens, outras perderam filhos cônjuges, a sua posição social, a sua reputação ou as suas capacidades físicas. Tudo aquilo com que as pessoas se identificavam, tudo o que lhes dava a noção de identidade, foi-lhes retirado. Então, repentina e inexplicavelmente, a angústia ou o grande medo que sentiram de início dá lugar a uma sensação sagrada de PRESENÇA, uma profunda paz e serenidade e uma libertação total do medo. Perguntamo-nos: "Perante este "cenário" como é possível eu sentir tal paz?".
A resposta é simples se compreendermos o que é o ego e como funciona ele. Quando as formas com as quais nos identificamos e que nos dão a nossa noção de identidade desaparecem ou nos são retiradas, isto pode conduzir à ruína do EGO, uma vez que o Ego é a identificação com a forma. Quando não resta nada com que nos possamos identificar, quem somos nós afinal? Nessa altura ganhamos consciência da nossa identidade ESSENCIAL como algo sem forma, uma PRESENÇA universal, um SER anterior a todas as formas, a todas as identificações. Entendemos que a nossa verdadeira identidade é A PRÓPRIA CONSCIÊNCIA e não as coisas com que a consciência se identificava. Esta é a paz de Deus. A derradeira verdade de quem somos não é "Eu sou isto" ou "Eu sou aquilo", mas simplesmente EU SOU. ..."

Extracto do livro: "Um Novo Mundo"
Autor: Eckhart Tolle
Editora: Pergaminho


Um grande abraço

José António

antonior disse...

Olá Alexandra!
"Orlando" é uma obra genial de uma personalidade ímpar. Não me supreendeste ao citar, mas foi muito bom que o tivesses feito. Em "Orlando" fala-se do que está no mais fundo do(s) eu(s) e dos seus adornos e superficialidades como fundamentalidades subjectivas. Excelente!

Beijinhos

AnaGarrett disse...

Todos temos muitos Eus, amiga.
Beijos
Vê se apareces mais.

WALDE disse...

Gostei muito do texto.
Beijos

Pluma(PrincesaVirtual) disse...

Tantos eus...esse exerto é de facto muito interessante.

Beijinhos Alexandra

cuotidiano disse...

O meu Pai chamava-se Orlando, este texto chama-se belo, e tu... ainda bem que o "chamaste"!


Beijo

Desambientado disse...

Bom Fim de Semana.

Diafragma disse...

Já estive na casa desta grande senhora! numa aldeia com nome impronunciável, que em tudo me lembrava Trás-os-Montes.
A casa é agora Casa-Museu, para grande alegria dos Pubs ali ao lado que regorgitam de turistas.