domingo, abril 26, 2009

Acreditar

Como Agnóstica não sigo qualquer religião. Acredito que embora tenha tentado compreender e assimilar as bases de algumas delas, algo faltou para que pudesse existir identificação. Porém, reconheço que algumas posturas são, de facto, louváveis. Nesse âmbito, e embora sejam palavras retiradas de um livro que em nada toca a religião, não pude deixar de sorrir ao ler as linhas que passo a citar:



“Quase ninguém o sabe, mas o amigo Sempere não punha os pés numa igreja desde o funeral da sua esposa Diana (…) Talvez por isso todos o tomavam por ateu, mas ele era um homem de fé. Acreditava nos amigos, na verdade das coisas e em algo que não se atrevia a dar nome nem rosto (…) O senhor Sempere acreditava que todos fazíamos parte de alguma coisa e que, ao deixarmos este mundo, as nossas recordações, os nossos anseios não se perdiam, passando ao invés a ser as recordações e os anseios daqueles que vinham ocupar o nosso lugar. (…) acreditava que Deus, ou quem quer que aqui nos pusera, vivia em cada uma das nossas acções, em cada uma das nossas palavras, e se manifestava em tudo aquilo que nos fazia ser mais do que meras figuras de barro. (…) acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros e por isso dedicou toda a sua vida a partilhá-los, a protegê-los e a certificar-se de que as suas páginas, assim como as nossas recordações e os nossos anseios, jamais se perderiam, porque acreditava (…) que, enquanto restasse uma única pessoa no mundo capaz de os ler e de os viver, haveria um pedaço de Deus ou de vida.”

Zafón, Carlos Ruiz, O Jogo do Anjo, p. 423.

12 comentários:

jardinsdeLaura disse...

Alexandra,
De imediato reconheci essa imagem, pois visito com alguma regularidade o blog de Gonio... mas tiveste razão em escolhê-la pois ilustra à perfeição o teu texto!

GONIO disse...

Reclamação :)
A imagem não é do GONIO, é do Palavras Impressas, um blogue sobre livros que tenho com uma amiga.
Ai ai... :)

Obrigado pela (p)referência :)

isabel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paula Raposo disse...

Eu estou a ler a Sombra do vento. Este excerto está fantástico. Gostei. Beijos.

isabel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
isabel disse...

Olá Alexandra,
"acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros e por isso dedicou toda a sua vida a partilhá-lhos".
A partilha é, uma forma de estar junto de Deus, em coisas tão pequeninas, que por vezes, não damos por elas.
- mãe, estás triste,porquê?
- não estou triste, amor.
- já sei, estás a pensar que a tristeza não importa...importa ser feliz, não é mãe?
Vai a correr para o quarto do irmão e volta, radiante.
- mãe, vem ver, assim ficas feliz!
O meu domingo, ficou cheio de ternura, ser mãe, é estar perto de Deus.
Partilho o meu presente contigo, beijinhos.
isabel

http://www.youtube.com/watch?v=QTXyXuqfBLA

Maria P. disse...

"Acreditar" tem alguns mistérios...

Beijinho(S)

Mocho Falante disse...

Fantástico, grande passagem sim senhor, há aí uma religiosidade transcendental, adorei

beijocas

Isabel José António disse...

Querida Amiga Alexandra,

EXcelente texto e também uma excelente escolha.

Se não sente Deus, pelo lado da espiritualidade, vá antes pela margem da Física Quântica, e ao aprofundá-la ficará tão extasiada como qualquer espiritualista ou místico.

Afinal estamos todos à procura do mesmo: A tal REALIDADE que deu e dá origem a tudo o que existe.

E se for pela Física Quântica ficará a saber que essa tal Realidade, a que poderemos chamar O TODO, contém o TUDO e o NADA. E esse Nada, que não contérm nada, tudo contém em potencialidade. E desse nada as partículas sub-atómicas (os neutrões, neutrinos, guões, piões, etc., etc.)vêm à existência assim, saídos desse nada. Logo, não pode sair algo do nada, se lá não estivesse antes.

Essas partículas estão em todo o lado. Interagem com todas as outras partículas. Não percorrem um qualquer percurso para irem de um local para o outro. Desaparecem de um lugar e aparecem no outro sem percorrerem nenhum percurso (saltos quânticos). Só se deixam ver quando observadas pelo ser humano. Tomam o nome de onda, quando não observadas e de partículas quando aparecem depois
de observadas. Se pegarmos numa partículas e a dividirmos em duas e mandarmos uma delas para a China e deixarmos que a outra permaneça em Portugal, se fizermos algo a uma delas, a outra começa também a reagir simultaneamente. Ou seja, estão em todo o lado. E, quando em miúdos nos diziam que Deus estava em todo o lado, o que dizer desta analogia?

E que sendo uma energia constante com campos energéticos que são activados pela sua e minha e de todos, INTENÇÃO, e respondem a essa intenção, porque não sabermos da existência desse campo energético com o BEM e com ÉTICA?

Que diferença faz chamarmos-lhe Deus, Cosmos, O inconsciente colectivo, ou outra coisa qualquer?

Basta sabermos que as nossas intenções, pensamentos, palavras e acções, se inscrevem nesse campo de energia incomensurável e interagem com tudo o que lá esteja...

E nós somos constituídos por biliões de partículas, e tudo o que nos rodeia também.

Querida amiga, peço desculpa, por tão longo comentário, mas é difícil dizermos algo que nos transcende em tão poucas palavras.

Um grande abraço para si e que seja muito feliz na sua vida.


Faz o silêncio em ti
Ouve a voz em surdina
Que te diz "Estou aqui"
Ao virar de cada esquina

És o Todo, o tudo e o nada
És uma partícula do Universo
És aquela magia da alvorada
Que há no verso e no reverso



José António

tempusinfinitae disse...

Que tudo se recolha. Até mesmo o que magoa. É bagagem que se leva e se há-de abrir, servir, alimentar.

E uma outra vez se vive, e mais outra e tantas quantas as memórias que guardamos e se hão-de venerar.

Nem só no principio era o Verbo.

Anónimo disse...

Ás vezes há sincronias... e a mim pareceu-me de repente que muita gente anda a ler as mesmas coisas e a pensar no mesmo...

Um abraço

PAS[Ç]SOS disse...

Perdoem-me os que o considerem uma imbecilidade, mas não sei se será possível existir alguém que não sinta, ou tenha sentido, fé. Poderá ser em Deus, Alá ou na entidade que entenderem. Poderão atravessar fases de descrença de revolta com essa mesma entidade, mas acredito que todos teremos momentos, nas nossas vidas, em que temos fé e em que acreditamos haver 'alguém' que proporciona 'coisas' em que acreditamos. Eu quero acreditar que assim seja e não considero que se tenha de ser necessariamente religioso para o crer. Finalmente umas palavras de partilha: 'A sombra do vento', arrisco a dizer que será o meu livro preferido. Depois de o ler aguardei ansiosamente mais de quatro anos pela nova obra de Carlos Ruiz Zafón, 'O Jogo do Anjo'. Ainda que não me tenha surpreendido tanto quanto a anterior, gostei imenso de lê-la. O universos dos livros é interminável e, para mim, o talento de Zafón é infinito.