terça-feira, outubro 31, 2006

Reflexão sobre o "Inconsciente".

Segundo Freud:
"Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece à lógica nem à moral.
A personalidade é determinada fundamentalmente por processos e forças inconscientes moldadas nos primeiros anos de vida (até aos 6-8 anos). Daí resultam comportamentos incompreensíveis (fobias, auto-agressão) o que permite pensar em soluções para a cura."


http://www.prof2000.pt/users/isis/psique/unidade1/objecto/freud.html




Segundo Jung:
Jung designou a sua teoria de psicologia analítica, uma psicologia da profundidade que se centra na compreensão do relacionamento entre a mente consciente – que aparenta ser o nosso centro de auto-controlo – e o inconsciente tal como este se manifesta nos sonhos, nas fantasias, no simbolismo das artes criativas, na cultura, nas doenças psicossomáticas, nos sintomas psicológicos e nas
preferências quotidianas bem como padrões comportamentais que se tende a designar de personalidade.

http://www.ismai.pt/NR/exeres/5D02371D-DB7F-4719-BB0C-F3CE662440DB,frameless.htm



O Inconsciente
Fomos…
Somos…
Seremos…

Sempre influênciados pelas vivências inconscientes.
Os comportamentos, decisões, etc, estão vinculados às experiências que esquecemos, mas que permanecem no nosso inconsciente. Pelo que cada um de nós, é um Ser diferente, quer na procura de razões de vida, quer na sua apreciação.
No fundo, toda a nossa existência, é uma “luta” entre aquilo que queremos, aquilo que podemos e aquilo que conseguimos atingir, tendo em conta que cada acontecimento, nos deixa marcas que permanecerão, tendendo a influenciar as respostas futuras.

Este pequeno texto, foi pensado tendo como base não só as teorias atrás descritas, como também as palavras escritas por duas pessoas, das quais transcrevo alguns excertos.
(…) "por vezes não vemos aquilo que somos, e tentamos pensar como agir, em vez de agir como pensamos. Esta é a grande diferença: o tempo não se apaga, a memória pode não lembrar, mas não esquece cada momento vivido."(…)

Marco António (
http://aoencontrodotempo.blogspot.com/)

(…)"Uma seta partindo do arco quando chega ao destino, já não é a mesma seta. E connosco é a mesma coisa. a própria existência nos vai moldando a cada segundo que vai passando."

Manuel (http://de-proposito.blogspot.com/)

Em suma, poderá dizer-se que a “matriz” é a mesma para todos nós, somente os conteúdos variam!

sexta-feira, outubro 27, 2006

A Beleza e a Intolerância

Final do Ramadão Foto@EPA/Strmultan
Mulheres paquistanesas exibem as suas mãos decoradas em Multan, no Paquistão, na celebração do Eid al-Fitr, que assinala o fim do mês de jejum do Ramadão.
É triste se pensarmos que uma tradição tão bela, pode esconder atrás de si fundamentalismos que mais não fazem senão deixar um rasto de destruição, de ausência de liberdade e uma total incapacidade para pensar a realidade de forma isenta!
Uma das mais constantes características gerais das crenças é a sua intolerância. Ela é tanto mais intransigente quanto mais forte é a crença. Os homens dominados por uma certeza não podem tolerar aqueles que não a aceitam.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'

segunda-feira, outubro 23, 2006

Palavras soltas

Salvador Dali, Thought, 1925
Espero pela noite, companheira desde sempre ... silêncio que somente é interrompido pela musica suave, estimulo para o fluir do pensamento.
Frida Kahlo, embora a grande maioria das vezes funcionando em registos opostos, tem uma frase adorável: "Para que presciso de pés quando tenho asas para voar?" Fruto de um sofrimento atroz, ainda consegue usar um dos mecanismos de defesa mais usados pelo Ser Humano.
Para usufruir de um pouco de paz interior, muitos de nós, tentamos "sair do corpo" para voar e, assim, simplesmente respirar... elemento esssencial à vida! Contudo, por maior que seja a mágoa, a "gravidade" mais tarde ou mais cedo, puxa-nos de volta ao mundo real. Aí teremos que voltar a sentir a dor. Nada melhor que esse estímulo para nos devolver à terra! É aqui que pensamos no que nos faz sentir mal, no que nos magoa ou, nos maguou. Urge a solução para voltarmos a ser o que eramos e não, a sombra do que fomos!
Mas, voltar a ser o que era? Será possível?
Tudo é mutável e, não seremos nós, humanos, que vamos ter a coragem de dizer o contrário. Sentimo-lo na mente, no corpo e na pele!
Caminhos traçados e percorridos que, por esta ou aquela razão, foram destruidos. Sentimentos que antes eram, mas deixaram de ser, porque qualquer acontecimento nos abriu os olhos, levando à tomada de consciência ...
Não! Os mesmos já não seremos! Melhores? Piores? Depende da forma como são vivênciadas as circunstâncias. No entanto, que é isso de melhor, ou pior? Subjectividade quanto baste! Para o próprio pode ser melhor porque assim se sente defendido, para os que o rodeiam pior, porque deixou de ser o que era. As respostas perante um mesmo estímulo deixaram de ser iguais...
Inumeras, são as vezes que ouvimos a palavra " esquece"!!! Resposta a essa palavra, quanto mais não seja porque o próprio acha que assim deve ser: "Esqueço tudo e volto ao que era." Tenta, desespera para conseguir, reune todas as suas forças com esse obectivo mas, depois de muito batalhar, acaba por voltar a perguntar: Porquê? Porque tenho que esquecer o que me maguou? Porque tenho que esquecer o que modificou os meus sentimentos se, de facto, eles sofreram uma modificação? Remeter para a profundidade do inconsciente já não é possível porque a consciência da acção está bem vincada.
Resta perceber o porquê da modificação, a aceitação desse porquê ou não e, em consonância, dar a resposta correcta, mesmo que para isso demore tempo. Um dia, uma semana, um mês, um ano, dois anos ... não interessa. O tempo necessário para, assimilar a própria razão que, não está isenta da emoção, segundo teorias bem fundamentadas do Prof. António Damásio.
O dia de amanhã, será ele próprio, os que se seguirem também... até ao dia da tomada de decisão que, pode ser NUNCA!!!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Reflexo

Imagem retirada de: Blog Catedral2

A realidade vivênciada, pode ser por vezes tão avassaladora, dura ou simplesmente rotineira, que não nos é permitido, a maioria das vezes, parar para pensar. Porém temos mecanismos que em nosso socorro surgem e que nos fazem parar e olhar com outros olhos, para algumas circunstâncias que fazem emergir toda a sensibilidade existente em cada um de nós. A poesia, assim como a prosa, são elementos que nos propiciam a possibilidade de parar e pensar, mantendo-nos longe por instantes, daquele que é o nosso mundo. Muitas dessas palavras que nos captam a atenção, são na maioria das vezes, o nosso próprio reflexo. Assim sendo, será sempre gratificante passar os olhos por exemplos destes:

AMAR!

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... Além...

Mais este e Aquele, o Outro e toda a gente...

Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... para me encontrar...

Florbela Espanca, Sonetos, pp 137.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Nunca nos separámos do primeiro amor...



Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor


Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.

Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '


Perante cabeças espreitando pela janela, a professora exclama “Temos visitantes!” Depressa as sombras desaparecem… acabou a aula, Economia… Brrrr que horror!!! È a correria para as varandas, a descida pelas escadas interiores, o barulho da confusão do intervalo!

Um olhar, um aceno, uma brincadeira e de novo recolhemos às salas. Mais uma hora, duas horas, e de novo a confusão. Conversa aqui, conversa ali… e os primeiros namoros emergem!

Verão… calor abrasador! Mas o pátio tinha o sol a acompanhar-nos desde que chegávamos à Escola, até que dela saíamos. Procurar as sombras, sentados aos molhos pelo chã, pelos canteiros, cadernos, livros espalhados. Hora de entrada… tudo a correr cada um por seu lado. As paredes que sempre foram amarelas continuam sendo amarelas. O velho ginásio palco de grande movimento, de grande azáfama. Elemento de prazer para uns, de angústia para outros, mas continua lá!

Aqui se aprendeu não só aquilo que hoje nos pode servir ou não, como também a viver.
A alegria do primeiro encontro, as conversas de adolescente e toda uma vida à nossa frente! Sonhos? Muitos! Se estas paredes falassem??????
Vidas se afastaram, vidas se uniram, imagens marcadas por vivências pertinentes que nunca esquecem.

Aqui nasceram alguns primeiros amores que se tornaram únicos, até um dia… um determinado dia…em que muito do que era foi perdido!

A estrutura permanece inalterada na sua essência, as cores são as mesmas, os muros os mesmos, o chão o mesmo mas nós… modificamo-nos!!!!
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Bom Fim de Semana!

Fotografias: Antiga Escola Secundária Gil Eanes, Lagos, 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

Que direito...?


Não gostava de entrar por este assunto pela sua polémica, pela sua sensibilidade, pelas diversas formas de ver o mundo e acima de tudo por gostar de respeitar as diversas formas de pensamento.

No entanto, não resisto a escrever algo sobre alguém que ontem vi dando uma entrevista na televisão: Ana é uma doente terminal que defende a eutanásia. Numa entrevista única, no Jornal da Noite, pede para poder ser ela a decidir o futuro. Porque tem "muito medo da vida". Tem "muito medo de ter dores, de perder a dignidade". Porque, diz, a morte não a "assusta nada". (1).

Quando vi esta pessoa à minha frente, usando estas e outras palavras para defender o que achava por conveniente dizer acerca da sua situação e, apesar de já há muito tempo, defender que todos temos direito a uma vida digna de tal nome, considerando por isso que o sofrimento, não sendo mais que ( em alguns casos) o prolongamento da agonia do que todos sabemos que inevitavelmente irá acontecer, iniciei um novo caminho no raciocínio que me leva a perguntar se teremos nós o direito de obrigar seja quem fôr, a sofrer até ao fim? Como seres humanos, devemos aceitar isso? Devemos manter essa ideia conformada de que tem que ser assim?
Freud escreveu que : “O indivíduo num grupo está sujeito, através da influência deste, ao que com frequência constitui uma profunda alteração na sua actividade mental. A sua submissão à emoção torna-se extraordinariamente intensificada, enquanto que a sua capacidade intelectual é acentuadamente reduzida, com ambos os processos evidentemente dirigindo-se para uma aproximação com os outros indivíduos do grupo (…)” (2)


Ao ler estas palavras, associei-as a toda a controvérsia existente, no que concerne ao tema em questão. Somos uma sociedade que equivale a um grupo, onde o individuo está inserido, sofrendo por isso a sua influência. Ao usar esta teoria teria que assumir uma submissão à emoção colectiva, aceitando por isso que a capacidade intelectual de cada individuo é reduzida face aos valores da socialização, por forma a que se verifique uma aproximação ao pensamento dominante no grupo.


Tendo consciência de que estou a fazer uma simplificação demasiado reducionista, será que não existe alguma verdade nestas relações para que um tema destes dê tanta polémica? Será que ficamos tão arreigados aos nossos valores que não nos é permitido pensar de forma mais ampla e, aceitar a versão daquele que está, de facto, a passar pela real situação, negando-lhe assim os seus próprios direitos, em função do que tanto nos assusta mas que não é mais do que uma realidade da qual nenhum de nós escapará?


Um assunto que prevejo seja discutido, mas que penso nunca haver possibilidade de consenso…



(1) Sic Online de 2006-10-11

(2) Sigmund Freud, in 'Psicologia das Massas e a Análise do Eu'

Quadro: A criança doente, 1885/1886, E. Munch

segunda-feira, outubro 09, 2006

Para uma Amiga ...

A felicidade é um estado permanente que não parece ter sido feito, aqui na terra, para o homem. Na terra, tudo vive num fluxo contínuo que não permite que coisa alguma assuma uma forma constante. Tudo muda à nossa volta. Nós próprios também mudamos e ninguém pode estar certo de amar amanhã aquilo que hoje ama. É por isso que todos os nossos projectos de felicidade nesta vida são quimeras.
Aproveitemos a alegria do espírito quando a possuímos; evitemos afastá-la por nossa culpa, mas não façamos projectos para a conservar, porque esses projectos são meras loucuras. Vi poucos homens felizes, talvez nenhum; mas vi muitas vezes corações contentes e de todos os objectos que me impressionaram foi esse o que mais me satisfez. Creio que se trata de uma consequência natural do poder das sensações sobre os meus sentimentos. A felicidade não tem sinais exteriores; para a conhecer seria necessário ler no coração do homem feliz; mas a alegria lê-se nos olhos, no porte, no sotaque, no modo de andar, e parece comunicar-se a quem dela se apercebe. Existirá algum prazer mais doce do que ver um povo entregar-se à alegria num dia festivo, e todos os corações desabrocharem aos raios expansivos do prazer que passa, rápida mas intensamente, através das nuvens da vida?



Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'

Fonte: O Citador

sábado, outubro 07, 2006

Arte Poética

Arte Poética
A poesia do abstracto...
Talvez.Mas um pouco de calor,
A exaltação de cada momento
É melhor.Quando sopra o vento
Há um corpo na lufada;
Quando o fogo alteou
A primeira fogueira,
Apagando-se fica alguma coisa queimada.
É melhor...Uma ideia
Só como sangue de problemas;
No mais, não,Não me interessa.
Uma ideiaVale como promessa
E prometer é arquear
A grande flecha.
O flanco das coisas só sangrando me comove,
E uma pergunta é dolorida
Quando abre brecha.
Abstracto!O abstracto é sempre redução,
Secura;
Perde -
E diante de mim o mar que se levanta é verde:
Molha e amplia...
Por isso, não:
Nem o abstracto nem o concreto
São propriamente poesia.
A poesia é outra coisa.
Poesia e abstracto, não.
Vitorino Nemésio

Bom Fim de Semana!


quarta-feira, outubro 04, 2006

Viagem no tempo

Lagos, verão de 2006

Olhando hoje para o que foi, em tempos, local preferido de brincadeiras, recordo o pouco que me ficou do que dentro destas paredes existe ou, existia. Obviamente o que hoje me parece totalmente normal em proporção, na memória surge como um objecto de sonho enorme, cuja luz encantada entrava, iluminando paredes e objectos que nos rodeavam.
Todas as janelas trazem uma imagem, todas elas uma sensação há muito sentida...
...
.
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa