
Quem não se lembra de alguém lhe ter dito que ouvia o barulho do mar se escutasse através de um búzio? Quem não se lembra de fazer a experiência e… de facto ouvir o mar através de algo que dele provêm. Quem já fez este gesto, fê-lo com certeza em criança, criando a ilusão errada mas mágica de que o que ouvia era o mar!
Uma grande parte de nós ainda repete este movimento embora com consciência de que é o próprio cérebro que lhe irá dar a ouvir aquilo que há muito lhe foi transmitido.
No entanto e embora ilusão, quem não gosta de dar esse prazer a uma criança face à felicidade da nova descoberta?
Um dia a descoberta será desmistificada, mas a magia continuará!
«As ilusões», dizia-me o meu amigo, «talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o facto tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do facto real».
Charles Baudelaire, in 'Pequenos Poemas em Prosa'
" O Citador"
" A menina e o búzio", Pastel de óleo, Alexandra, 19...