sábado, fevereiro 28, 2009

Sensibilidade


Num tempo em que os casamentos eram feitos por conveniência, podendo mesmo pensar-se em termos negociais, não deixa de ser importante olharmos para a sensibilidade e delicadeza do Ser Humano que escreve para, de alguma forma, suavizar o temor do desconhecido. Neste caso, a receptora destas palavras poderia fazer o seu próprio juízo de valor e, se possível, captar o que de mais sensível existia na pessoa que somente conhecia através de carta e, possivelmente através de pintura.
Numa visita ao Palácio da Ajuda dei comigo a ler estas palavras que achei de uma beleza excepcional:

Fumar charuto era um dos prazeres de D. Luís. Numa das cartas de noivado para D. Maria Pia revelou-lhe este seu hábito.
“ É também necessário que te diga um pouco dos meus gostos e carácter, na medida em que eu próprio os possa conhecer. Sou grande fumador, bom caçador, apaixonado pela música (…) Peço-te no entanto que não me impeças de fumar, é o único vício ao qual me apeguei seriamente. Quando se esteve no mar, quando se viu a morte defronte dos olhos, quando acreditamos que não voltaremos a ver os nossos, o charuto faz a vez de amigo e companheiro, fazendo voar os pensamentos tristes, como o fumo se agita ao vento.”

D. Luís e D. Maria Pia – Ascendentes do Rei D. Carlos (penúltimo rei de Portugal).

Imagem: Sala de Fumo, Palácio da Ajuda, Lisboa


13 comentários:

poeta_silente disse...

Belíssimo. Belíssimas palavras.
Na realidade, são colocações de uma profundidade sem par.
Admiro a tua sensibilidade, querida.
Raramente encontramos pessoas que tenham esta sensibilidade acurada.
Na realidade, somente os "artistas" a tem. Portanto, vejo que és uma artista. Pelo que me lembre, parece-me que tocavas piano.
Tenho tocado piano (e orgão) seguidamente. Com certeza que estou mais leve, a cada dia. Pois nada nos deixa mais realizados do que "viver" a música.
Portanto, não preciso fumar para desanuviar meus pensamentos... basta-me "tocar"... e "sentir"... - momento este que, de alguma forma, ficará para sempre. Esteja ou não esteja eu, longe dos meus.
Beijos saudosos...
Até qualquer dia...
Miriam

Mauro disse...

Excelente o artigo, leva-nos para outra era tão diferente para melhor que a nossa.

Maria P. disse...

Eram outros tempos...
Seriam melhores?! Assim...
Fico a pensar.

Que magnífico post, Amiga!

Beijinho(S)

Mocho Falante disse...

Extraordinário sem dúvida, adorei...

beijocas

Å®t Øf £övë disse...

Alexandra,
A minha grande dúvida é se os casamentos por conveniência aconteciam só naqueles tempos... Talvez existissem casamentos por conveniência completamente sinceros, enquanto que hoje o são de uma forma muito mais dissimulada, e em que as pessoas nunca abrem completamente o "jogo" como o fez D.Luis.
Beijinhos.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Belas palavras sim senhor! Rei sensitivo e poeta!!!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Belas palavras sim senhor! Rei sensitivo e poeta!!!

Bruce disse...

Obrigado pelas simpáticas palavras!

Poucos são aqueles que se detêm a ler uma carta com centenas de anos, imortalizada pela sinceridade e amor subliminar presente nela. És uma delas e deves estar feliz por isso!

Sou um apaixonado pelo romantismo... é triste este acto sem par ter sido esquecido, é assustadora a insensibilidade da, grande maioria, das pessoas que vivem este tempo, que de bom tem pouco...

Cada vez mais se desvanecem os ideais realmente importantes, sendo substituídos por torrentes de putrefacção.

Por mim nunca morrerão...

Definitivamente nasci na época errada.

Isabel José António disse...

Querida Amiga Alexandra,

Muito interessante este seu post sobre a abertura de alma do rei em relação à sua consorte pouco conhecida nessa altura.

Parabéns.

Um abraço

José António

PS.:
Se se quiser dar ao trabalho, convido-a a visitar um blogue de uma jovem de 86 anos, que faz o favor de ser minha sogra e mãe da Isabel. Se fôr ao nosso blogue "O Caminho do Coração", este tem lá vários seguidores. Um deles é o Voo Longo. Clica lá em cima e já lá está.

Um abraço

Anónimo disse...

Você conseguiu aqui A Kind of Magic sim.
Bom fim de semana

isabel disse...

Olá Alexandra,
O amor é sempre lindo, é como uma flor tecida comfios de luz, que ilumina e espalha a felicidade, já o desamor...
beijinhos
isabel

isabel disse...

Olá Alexandra,
O amor é sempre lindo, é como uma flor tecida comfios de luz, que ilumina e espalha a felicidade, já o desamor...
beijinhos
isabel

Isabel José António disse...

Querida Amiga,

Deixámos-lhe um Selo Dourado no nosso Caminho do Coração.

Um abraço,

Isabel